Muitos de nós nos sentimos profundamente perdidos diante da pandemia atual do Corona vírus, com um profundo senso de instabilidade e insegurança emergindo dos grandes desafios que os eventos apresentam.
Na esperança de receber reafirmações, olhamos para os nossos governos e os líderes mundiais, esperando um consenso global e uma estratégia unânime no combate da crise – mas tudo que encontramos é mais divisão, controvérsia, e posições contraditórias.
Mas talvez, no final das contas, isso seja um reflexo externo de como a maioria de nós se sente por dentro.
Porque, na verdade, mesmo dentro de nós mesmos, muitas vezes nos sentimos divididos entre inúmeras ‘soluções’ para os problemas complexos que se apresentam – adotando opiniões, apenas para revisá-las imediatamente, quando confrontados com um novo fato ou argumento. Assim, acabamos oscilando entre opiniões e posições, que muitas vezes parecem difíceis de conciliar entre si. E a enorme quantidade de informação disponível pode super-carregar de forma que simplesmente nos fechamos e nos retiramos com exaustão mental. Isso não se aplica apenas à pandemia atual, mas praticamente qualquer problema complexo no mundo de hoje. A maioria de nós vive com uma sensação de estar um pouco “bipolar” em um mundo, que simplesmente não faz mais sentido.
A crise global mostra como o mundo – no qual baseamos nosso senso de estabilidade, segurança interna e as esperanças de nosso bem-estar – realmente é altamente frágil.
Almejamos por estabilidade, integridade e eternidade (porque, intuitivamente, sabemos que isso é o nosso direito de nascimento), mas tudo que ‘ser uma pessoa no mundo’ nos oferece, é mudança constante, separação, doença e morte.
Mais cedo ou mais tarde, talvez enxergamos que simplesmente estamos olhando no lugar errado!
Tradicionalmente, em tempos de grandes crises, muitas pessoas gravitam para religião ou fé para achar conforto e segurança. Embora eu não advogasse doutrinas, ou adaptar crenças religiosas (ou qualquer outra crença), o movimento em direção ao “mundo interior”, como sugerido por isso, aponta aproximadamente na direção certa.
As tradições esotéricas, e os místicos dos tempos têm sido muito claros sobre onde procurar paz, harmonia e sabedoria verdadeira – ou seja, ‘dentro’ (apesar do dualismo ‘dentro – fora’ apresenta as suas próprias falhas). Adicionalmente foi sugerido que a libertação autêntica, e a verdadeira paz provêm da realização (ou melhor: do reconhecimento) do nosso verdadeiro EU, ou da nossa verdadeira natureza (‘dentro’). O mundo (exterior) e seus fenômenos em constante fluxo – incluindo o nosso ‘endereço pessoal e crachá’ nesse reino (ou seja a nossa suposta identidade limitada como uma pessoa separada) – em contraste, foram descritos como um pouco menos ‘reais’ ou até ‘ilusórios’ .
Em uma reflexão mais aprofundada, podemos perceber que a ‘dupla dinâmica’ – eu (aqui dento) e o ‘outro’ (= o mundo ‘lá fora’) – realmente nunca cumpriu a promessa de nos dar uma sensação de segurança ou harmonia.
A razão é: simplesmente não é possível. A única maneira de experimentar o mundo e um ‘eu’, é através da nossa faculdade mental. De fato, o mundo é tão intimamente relacionado à mente, que não podemos separar um do outro. Em outras palavras: O Mundo É MENTE .
A mente é um “gerador de realidade conceitual”, e sua natureza é uma vibração constante em um espectro entre opostos. Nunca fica parado. Mudança incessante e instabilidade é seu ‘modus operandi’. E a mente é dualismo. Onde existe uma coisa, também deve ter outra(s) coisa(s) – a parte contrária, ou “outro lado da moeda”. Você não pode ter um, sem inevitavelmente trazer à existência o outro também! E quanto mais “coisas” existem, o mais dividida a mente se torna.
Desta forma, assim como o mundo (e o pequeno ‘eu’ separado neste mundo) não é o ‘lugar’ certo para procurar a estabilidade e a harmonia, a atividade mental também não é a ferramentacerta para este trabalho – ela só pode operar dentro do domínio da mente / do mundo, mas não naquilo que é PRÉVIO À MENTE!
É por isso, que a mensagem não-dual parece tão complicada – quando na verdade é incrivelmente simples. Simples demais, para abstração mental; simples demais para enxergar de forma mental! No entanto, nenhuma mente é necessária para simplesmente reconhecer o que É. O que poderia ser mais simples que isso? O que poderia ser mais simples que UM?
A Mensagem
Segundo a ‘sabedoria perene’, os ramos místicos de todas as tradições religiosas – em seus ensinamentos centrais – apontam para o mesmo tema universal: a afirmação que a verdadeira natureza da Realidade – de toda a Existência – é caracterizada por Unicidade ou Não-Dualidade, e que este TODO UM é, de fato quem (ou o que) nós realmente somos; a nossa própria natureza e essência.
Mas o que isso realmente significa – em termos práticos? E como podemos torná-lo relevante para nossa vida e situação atual – aqui e agora?
Bem, podemos uma olhada de verdade, e seguir alguns PONTEIROS claros e diretos – até o reconhecimento direto, e a experiência real daquilo que está sendo apontado.
Aqui há um ponteiro muito claro, direto e descritivo da tradição Dzogchen:
‘Presença-Consciência não-conceitual – sempre novo, auto-radiante, apenas isso e nada mais’
E aqui um outro do Chhandogya Upanishad (= Sama Veda):
“Tat Tvam Asi” – VOCÊ É AQUILO!
Poderia ser mais claro, e mais óbvio?
O que mais pode – ou precisa – ser dito sobre isso?
E qual momento melhor, que este momento desafiador – para realmente levar isso ao coração, e reconhecer nossa verdadeira natureza como ISSO?
Investigando isso mais, deve ficar claro que o tempo nem entra nisso. O único momento em que esse reconhecimento pode ocorrer, é no momento atual. Para acontecer em qualquer outro momento – bem, isso simplesmente não será o próprio reconhecimento, mas apenas uma história sobre isso (surgindo agora). Tempo é mente. Presença-Consciência não é em tempo, nem em espaço. É além de todas as dimensões.
É verdade, que pode haver uma forte atração por estar “no mundo” (= na mente / no tempo), em vez de pousar no centro imóvel (ou eixo da roda girando). Mas, mesmo na aparência de tempo (do tipo: pequenos momentos de se reconhecer como Presença-Consciência, repetidos muitas vezes) – o pleno reconhecimento positivo instila uma sólida sensação de estabilidade, paz e harmonia no coração (e até na mente!) – algo que não depende do mundo e de seus fenômenos efêmeros, de forma alguma.
Seja presente, seja ciente. Você não pode não ser! É só possível que você se foque no conteúdo – contando uma historinha sobre ‘eu e o mundo’ a si mesmo. Deixe as histórias para trás. Deixe o ser – meditar – ver – reconhecer ser o seu foco!